Não é novidade para ninguém que a nossa educação é
de péssima qualidade e que não é de hoje que vivemos esta realidade lamentável.
Mas não quero falar aqui dos problemas mais imediatos, da falta de
investimentos, das estruturas precárias ou dos baixos salários dos professores.
Isso é óbvio e ululante. Quero falar da fórmula, do sistema educacional que
vigora no país, da proposta em si. Falam em aumentar os investimentos na educação.
Mas de que vai adiantar altos investimentos na direção errada? O sistema atual
é anacrônico, obsoleto, decadente. É um sistema que está falido e parece que
ninguém percebeu. Ou fingem que não perceberam.
O que é educação? Será que é um professor, com um
toco de giz na mão, transmitindo fastidiosamente informações
"importantíssimas", como quais os elementos da
tabela periódica na química ou quais as classificações e nomes científicos de determinadas
plantas na biologia? Ou quais as fórmulas para solucionar uma equação do 2º
grau? Ou qual o nome do rei da França na época tal da história? Isso é educação? É impressionante
como nos fazem decorar um monte de informações desinteressantes e sem a menor
utilidade prática. Treinar a memória, será que é esse o objetivo? E ainda não
nos ensinam – ou ensinam muito mal – matérias e conceitos de vital importância
para a vida de qualquer cidadão ou profissional, como o básico do básico de
ensinar a ler, entendendo e interpretando o que se lê. Não há um projeto efetivo que tenha como proposta incutir o hábito e o gosto pela
leitura nas nossas crianças. Mas no cronograma oficial está lá as regras gramaticais! (???). É impressionante!
O Brasil é hoje uma das maiores economias do mundo
e está ao lado de países africanos miseráveis quando se trata de educação
básica: ler, interpretar, escrever minimamente de forma correta e ter noções
mínimas de matemática e de ciências. A educação básica de qualidade deveria ser
um dos índices a serem perseguidos como prioridade de uma nação desenvolvida, ou
"em desenvolvimento", como gostam de falar do Brasil, que tem se
afirmado como um país de destaque no cenário internacional. Só se for o
destaque da mediocridade. Com uma política de aumento constante das cotas e zero
de ações concretas para o desenvolvimento da educação de base, o que se espera
conseguir? O triste fato é que ainda somos uma colônia subdesenvolvida metida a
besta. Ou como disse Peter F. Drucker: “Não existem países subdesenvolvidos.
Existem países subadministrados.”
Já estamos há muito tempo na era do fácil acesso
ao conhecimento. É engraçado ver os professores nas escolas entupindo seus
alunos de conceitos e mais conceitos, teorias e mais teorias, regras e mais
regras, como se eles fossem a única fonte de acesso ao maravilhoso mundo do
conhecimento. Quando se tem internet e livros à mão, qual a importância de
armazenar um mundaréu de informações, como se fosse uma enciclopédia ambulante?
Não é novidade para ninguém a máxima de que o que realmente importa é o que se
faz do conhecimento, não o conhecimento em si. Então o que estamos fazendo,
senhores educadores? Precisamos formar pensadores, leitores, escritores,
cientistas! E não meros repetidores de conceitos predeterminados.
É preciso revolucionar o sistema atual,
restabelecer as prioridades, reformular os métodos! Os professores precisam ser
capacitados, não como donos do aprendizado, mas como parceiros, colaboradores
de seus alunos. O professor deve ser capaz de levantar debates em sala de aula,
conduzir aulas práticas, trabalhar em equipe, instigar o raciocínio e estimular
o prazer de ler, estudar e aprender em seus pupilos. Neste contexto o aluno
pode até deter mais conhecimento que seu mestre, mas não importa, pois sua
atuação será como a de um maestro de uma orquestra. O papel do educador é o de
apontar os caminhos, já que tem mais experiência e sabedoria.
De que adianta construir mais escolas e aumentar
os investimentos se o sistema permanecer como está? O que são as escolas de
hoje, senão grandes depósitos de crianças, decorando (ou fingindo decorar)
inutilidades, sem saber exatamente o porquê de estarem ali?
Será que esse modelo, retrógrado, arcaico, antiquado e falido, é o que almejamos para as nossas futuras gerações? Até quando seremos privados da educação de qualidade, sendo esta a que se propõe
ao desenvolvimento e aperfeiçoamento constantes das potencialidades do ser
humano, em todos os seus aspectos, a única ferramenta capaz de transformar
para melhor as pessoas, a sociedade e o país?