BRASIL: UM NOME, UMA MARCA, OU UM PAÍS ?
Fábio Trad
O Brasil, complexo e multifário, vive um paradoxo que precisa ser enfrentado se quisermos superar barreiras para alcançar o máximo de bem-estar para a maioria. A profusão de bolsas assistenciais anestesiou as camadas populares. A estabilidade econômica desproveu a classe média de qualquer desejo de mudança estrutural. A elite econômica, embora arranhada pela crise do capitalismo especulativo, também prefere a segurança do caminho que lhe rendeu vantagens e dividendos. Não há, pois, inconformismo econômico a fomentar rupturas e desvios de rota.
Entretanto, paira no ar um halo permanente de insatisfação que, paradoxalmente, atinge a todos os segmentos sociais. Por onde se vai, a toada soa como refrão em tom monocórdio: o sorriso do País perdeu a alegria e dá-se a impressão de que a fisionomia da nossa brasilidade está se aproximando do perfil macunaímico de nossas frustrações congênitas. O cenário assusta e desalenta: a cidadania perdeu a vibração fundamental do sentimento coletivo da Pátria, hoje debochada como peça anacrônica de um relicário perdido ancorado em pântano de imobilismo. O brasileiro está arredio a qualquer causa coletiva porque perdeu o sentido político da coletividade, afundando-se nas conveniências utilitaristas do mais egoísta e apolítico individualismo. A isto se acresce o avassalador descrédito da política enquanto veículo para as transformações coletivas, circunstância potencializada pela constante exposição de desvios éticos e graves ilegalidades perpetrados por políticos no exercício do mandato.
Não há quem, na atual quadra da política brasileira, sinta-se autenticamente representado nos seus anseios e idéias. O fosso entre político e eleitor já é de todos conhecido, porém o que mais estarrece é a indolência com que se trata o desafio de encurtar a latifundiária distância na representatividade política. Deprime, é verdade, constatar que os exemplos da atualidade só reforçam a crença de que a política perdeu o viço do idealismo e da abnegação para se transformar em uma atividade desprovida de latitude ideológica, porque enfronhada no monturo de interesses privados, particulares e pessoais. Saudosa a época, porque exercida com decência e dignidade, não enriquecia senão o espírito e a mente do servidor do povo.
Hoje, basta observar o número de políticos que, antes de ingressarem na política, viviam modestamente, alguns até na tangência da miséria; mas que, depois de alguns mandatos, tornaram-se, simplesmente, donos de fabulosas fortunas de origem inconfessável. Em verdade, a política, enquanto expressão mais sublime do exercício militante das causas públicas, perdeu o encanto e hoje não mais consegue atrair os melhores quadros, aqueles formados na escola do idealismo e autêntica devoção á causa pública. De bolsas em bolsas, das mais variadas e imprevisíveis, o povo descansa o seu insólito pacifismo, tolerando e absorvendo a corrosão moral que devasta os valores democráticos do Brasil.
Para o establishment, na estratégia de ridicularizar a relação de amor cívico entre povo e nação, cultivar o Brasil e cultuar os seus valores cívicos e coletivos é sintoma patológico de Policarpo Quaresma, inesquecível personagem de Lima Barreto que passou longos dias em manicômio, e não a reafirmação da cidadania como declaração de fé à história e ao futuro do País, omitindo a lição fundamental de que as grandes nações se fundamentam estruturalmente na sintonia entre seu povo e a nacionalidade que encarna. O nosso povo não pode cair na desgraça de lembrar-se do seu País, enquanto expressão coletiva da nacionalidade, de forma bissexta, apenas em eventos esportivos, quando a pátria é causa de orgulho. Não, o civismo de um povo não pode se reduzir a uma bola de futebol. Tem que lembrar a sua história, o sangue dos seus heróis, a luta dos seus bravos líderes, a coragem dos grandes homens, a ousadia dos gestos memoráveis.
Não, não podemos permitir que nossas crianças tenham como ídolos para a veneração escandalosa do exemplo a seguir, alguns talentosos personagens do show-business que, indigentes de consciência política, conseguem habilmente cantar bem (mas para si), representar bem (mas para si), jogar bem (mas para si); enquanto aqueles que viveram a vida para os outros, dedicando- se para a nação, lutando pelo País estão sepultados em túmulos empoeirados pelo esquecimento. Quanta injustiça! Nos feriados nacionais, Tiradentes reúne menos pessoas nas ruas e praças que qualquer barzinho com televisão que transmita um jogo de futebol.
É preciso, pois, refundar a abordagem do nosso passado, seduzindo a juventude com o despertar de suas consciências para o que, de fato, importa na vida, que não é o gozo efêmero e escravizante do prazer sensual; mas o domínio completo do autoconhecimento; que não é a ilusão do delírio eufórico das drogas, pois vida bem vivida não se vive com euforia, mas com serena felicidade; que ler um clássico é mais saudável para a mente que passar horas a fio frequentando sítio virtual de relacionamento; que família é fundamental, que pátria é essencial, que participação política é importante, que o respeito ao próximo é condição moral para ser respeitado e respeitar a si próprio; que não adianta passar a vida acumulando bens, sem lhes dar um sentido ético, porque ao final, o único regozijo será morrer, frustrado, em uma UTI de luxo; que inveja é o veneno da alma; que a vaidade exacerbada é câncer do espírito; que o estudo, o trabalho, o esforço e a persistência são balizas infranqueáveis para a formação da dignidade do caráter e da personalidade.
Esta ansiedade frenética que atropela o percurso da análise e se impacienta diante das coisas é que move a juventude a recusar-se, por ignorância ou não, a ingressar na agenda política do País. Prefere, em sua grande maioria, o conforto da mediocridade dos sonhos a ter que enfrentar o desafio de dar um sentido a suas vidas. É preciso, pois, acordar o Brasil do entorpecimento letárgico que o prende ao imobilismo servil e mesquinho. Para isso, tenhamos a coragem de assumir nossas responsabilidades enquanto cidadãos para combater aqueles que insistem em escrever o nome do nosso País com letras minúsculas.
Viva o Brasil, a PÁTRIA QUE AMAMOS!
Ex-presidente da Seccional
de MS da Ordem dos Advogados
do Brasil (OAB-MS)
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